Gustavo Maciel é um artista plástico soteropolitano conhecido principalmente pelos trabalhos em concreto, os quais batizou de “arte fossilizada”. Suas obras estão presentes em duas mostras da CASACOR em 2025 – em São Paulo e na Bahia. No entanto, quem vê suas criações expostas nem imagina a trajetória inusitada que cruzou até aqui: Gustavo é dentista e se descobriu nas artes ao experimentar esculpir ovos de avestruz com uma broca odontológica.

“Eu sempre fiz arte desde pequeno, mas nada profissional. Em dado momento, meu irmão tinha uma fazenda que criava avestruz e que sobraram algumas cascas de ovos. Ele me deu e disse: ‘Faz alguma coisa aí, você desenha bem’. Então, eu comecei a escavar essa casca com motorzinho de dentista”, relembra o artista em entrevista à CASACOR.

Tudo mudou quando Gustavo viajou aos Estados Unidos e se deparou com uma parede escavada artisticamente. Foi então que o “ex-dentista” percebeu que poderia aplicar a mesma técnica utilizada nos ovos às paredes. O resultado da experimentação criativa aparece nos ambientes de Meneghisso & Pasquotto Arquitetura (SP) e Ian Carvalho (BA) da CASACOR.
Arte fossilizada
Como mencionado, o nome “arte fossilizada” foi criação do próprio Gustavo Maciel. Isso porque o trabalho de escavação em paredes remetia às escavações arqueológicas de fósseis. Para executá-la, o artista emprega materiais simples: talhadeira (elétrica ou manual), formão, martelete e martelo – além de uma parede em bom estado, claro.

“Eu sempre gosto de inovar. Muita gente começou a me procurar para fazer casas litorâneas – acredito que porque são residências mais fixas, em que as pessoas não pensam em se mudar em curto prazo. Então, faço muitos desenhos relacionados à praia e à pesca. Mas não necessariamente é uma marca registrada minha. Prezo sempre por obras que tragam sentimentos – como um hobby, música ou lembrança – não apenas uma imagem meramente decorativa”, revela.

Apesar do resultado elaborado, Gustavo garante que o processo produtivo também não é complexo. Após o desenvolvimento dos esboços e a aprovação dos clientes, o artista diz demorar apenas dois a quatro dias para a execução. Finalizada, basta envernizar a parede para garantir maior durabilidade à obra.
CASACOR São Paulo
O artista baiano tem chamado atenção dos visitantes da CASACOR SP com sua obra no ambiente Natureza em Essência, de Meneghisso & Pasquotto Arquitetura. Trata-se de um banheiro de 27 m2 inspirado na parceria de longa-data entre o casal de arquitetos Mariana e Alexandre.

“O pessoal da Meneghisso & Pasquotto me procurou pelo Instagram já com a ideia de fazer uma revoada de pássaros. Como são um casal, eles também queriam um desenho que retratasse o equilíbrio entre masculino e feminino. Eu sugeri incluir uma arvorezinha à arte – que funcionaria como uma sombra do jardim real que estava projetado para aquele espaço. Fizemos alguns esboços até chegar lá e ficou bem bacana!”, explica.
CASACOR Bahia
Na CASACOR Bahia, Gustavo Maciel não aparece em apenas um, porém em dois espaços da edição 2025. A arte fossilizada se destaca na Family Room de Ian Carvalho, onde “poesia e afeto promovem um mergulho nas origens emocionais dos próprios sonhos” pela descrição do próprio arquiteto.

Não à toa, o desenho de Gustavo está diretamente alinhado à proposta da CASACOR em 2025. “Fiz a escultura de um semeador, já que o tema da CASACOR é Semear Sonhos. Foi um processo bem rápido, o arquiteto já sabia o que queria e eu apenas defini a localização dos elementos. A parede é antiga, o que também facilitou para que quebrasse com mais facilidade”.

Além disso, o profissional assina uma pintura no ambiente de Milcent Arquitetura Arquitetura. O desafio era elaborar uma tela grande com tema relacionado à música. Isso porque o espaço ocupa o que um dia já foi a sala de dança e música do antigo Colégio N. S. das Mercês. Daí veio a ideia de desenhar Miles Davis, trompetista considerado um dos mais influentes músicos do século XX – um complemento perfeito à decoração!
“Eu não gostava do que eu fazia. E também eu não sentia que as pessoas iriam gostar se eu anunciasse para vender as minhas telas, por exemplo. O amor pelas minhas próprias obras só veio depois, quando comecei a entender que aquilo não estava sendo feito só pra mim, tinha gente que olhava e gostava. Então, eu desapeguei um pouco e consegui evoluir nessa parte, me entender como artista e colocar para fora tudo isso que estava ali guardado”, finaliza.