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Shigeru Ban revisita sua carreira em palestra na Japan House, em São Paulo

Conhecido pelo trabalho inovador com papelão e madeira, o arquiteto japonês dividiu com a plateia curiosidades sobre seus projetos mais emblemáticos

Por Nádia Simonelli
Atualizado em 8 Maio 2025, 17h26 - Publicado em 8 Maio 2025, 15h25

“Eu sempre quis usar meu conhecimento em favor do público em geral”, afirmou o arquiteto japonês Shigeru Ban logo no início de uma palestra ministrada por ele na Japan House São Paulo, no dia 2 de maio de 2025. Vencedor do Prêmio Pritzker em 2014 (a premiação de arquitetura mais importante do mundo), ele ficou conhecido por criar um sistema construtivo inovador, com o uso de tubos de papelão e estruturas de madeira, usado, principalmente, em suas numerosas contribuições para as vítimas de desastres em todo o mundo.

Shigeru Ban revisita sua carreira em palestra na Japan House, em São Paulo
(Rafael Cusato/CASACOR)

“As pessoas sofrem muito durante a reconstrução de uma cidade que passou por um desastre. É responsabilidade do arquiteto fornecer melhores condições de vida para essas pessoas”, disse. Foi a partir dessa explicação, que Shigeru Ban iniciou sua apresentação para uma plateia física e digital atenta, que teve o privilégio de fazer junto com o arquiteto uma imersão em seus principais projetos. O arquiteto começou por projetos emblemáticos, criados para grandes empresas e instituições, mas depois apresentou suas iniciativas criadas para benefício da sociedade em geral e como foram aplicadas em cenários de conflitos, terremotos e durante a pandemia. Confira os principais destaques logo abaixo!

Nomadic Museum | Nova York, Estados Unidos

Shigeru Ban revisita sua carreira em palestra na Japan House, em São Paulo
(divulgação/CASACOR)

Projetado em 2005 e construído no Píer 57 de Manhattan, às margens do Rio Hudson, o Nomadic Museum é uma estrutura temporária para um museu itinerante, criado para abrigar inicialmente a exposição Cinzas e Neve, do fotógrafo canadense Gregory Colbert. Construído com 148 contêineres alugados na região e tubos de papel reciclados de 10,3 metros de altura, o museu foi projetado para ser facilmente construído e remontado em outras cidades ao redor do mundo. Depois de Nova York, o museu itinerante já viajou para Santa Monica e Tóquio.

Villa Vista | Weligama, Sri Lanka

Shigeru Ban revisita sua carreira em palestra na Japan House, em São Paulo
(divulgação/CASACOR)

Construída no topo de uma colina, de frente para o mar, no Sri Lanka, o piso, as paredes e o teto desta casa emolduram três vistas diferentes. A primeira é a vista do oceano contemplada na selva do vale, emoldurada perpendicularmente pelo corredor externo. A próxima é a paisagem horizontal do oceano vista do topo da colina, emoldurada pelo grande telhado sustentado por pilares de 22 m de vão e pelo piso. A última é a vista do penhasco, onde brilha um vermelho intenso durante o pôr do sol. Destaque no projeto, o telhado é revestido por leves placas de cimento e, em seguida, por um material feito de folhas de coco. O teto é feito de madeira de teca, com 80 mm de largura e 3 mm de espessura, trançada em um padrão de vime ampliado.

Ovaless House | Fukushima, Japão

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(divulgação/CASACOR)

Situada em um terreno urbano, esta casa em Fukushima, no Japão, não tem vistas exteriores particularmente especiais para capturar. Então, o volume do telhado de quatro águas é estendido até o perímetro do terreno e um pátio interno foi criado para melhorar a integração entre o interior e o exterior. Shigeru escolheu a forma de um pátio elíptico para alcançar uma continuidade fluida dos espaços internos. 

Swatch Omega Factory | Bienna, Suíça

Shigeru Ban revisita sua carreira em palestra na Japan House, em São Paulo
(divulgação/CASACOR)

Este projeto envolve duas marcas — Omega e Swatch —, com conceitos de design distintos para os edifícios, de acordo com as características de cada uma delas. Liberdade e alegria para a Swatch e precisão e exatidão para a fábrica da Omega, além da integração das personalidades de ambas na Cité du Temps. O objetivo de Shigeru era dar aos três edifícios algo em comum, relacionado ao contexto local. A madeira foi a escolha ideal do ponto de vista da construção por ser o melhor material estrutural, que permite um processo de montagem rápido e silencioso, além de ser uma matéria-prima renovável. Além disso, Bienna, cidade onde está localizado o projeto, é conhecida por sua escola de engenharia madeireira, que lidera o uso dessa tecnologia na Suíça. O volume total de madeira usado neste projeto é de 4.600 m³, o que corresponde a 10 horas de crescimento de árvores inteiras na Suíça.

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Oita Prefectural Art Museum | Oita, Japão

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(divulgação/CASACOR)

Para atender aos diversos eventos, funções e instalações que seriam realizados neste museu, Shigeru projetou portas horizontais dobráveis ​​e paredes de exposição móveis para criar um espaço flexível e adaptável. Além disso, em vez de uma caixa fechada, o museu foi criado como um ambiente aberto, conectando o visitante e às atividades internas. A rua principal também pode ser convertida em um espaço de exposição, transformando todo o bairro em uma grande área de eventos. O exterior é uma grade fachada de madeira laminada sobreposta a um suporte de cedro maciço, evocando um padrão do artesanato tradicional de bambu de Oita.

Paper Temporary Studio | Metz, França

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(divulgação/CASACOR)

A vitória no concurso para o novo Centro Pompidou, em Metz, na França, resultou na permissão para construir um estúdio temporário no terraço do 6º andar do atual Centro Pompidou, em Paris. A localização privilegiada permitiu que os arquitetos controlassem adequadamente a construção do novo edifício, ao mesmo tempo em que os visitantes do museu puderam acompanhar o processo de projeto.

Haesley Nine Bridges Golf Clubhouse | Yeoju-gun, Coréia do Sul

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(divulgação/CASACOR)

A Clubhouse do Nine Bridges Golf Club é uma instalação de 16.000 metros quadrados com um subsolo e três andares acima. O átrio e a parte superior do prédio principal exibem colunas de madeira e uma parede de vidro, enquanto a base é feita de pedra. A área de madeira inclui a recepção, um lounge para membros e um salão de festas. As colunas de madeira em forma de árvore incomuns no átrio alcançam uma altura de três andares. 

La seine musicale | Paris, França

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(divulgação/CASACOR)

Trata-se de um complexo de salas de música — com uma sala multiuso, uma sala de música clássica e uma escola —, localizado na Ilha Seguin, no subúrbio de Paris. De acordo com o plano diretor de Jean Nouvel para a ilha, um muro de concreto define o perímetro do local ao longo da beira da água. Dentro desse muro, encontra-se um grande salão, cercado por uma paisagem verde. À medida que o muro perimetral diminui em direção à borda principal, a estrutura hexagonal de madeira em forma de concha emerge. Ao redor, encontra-se uma grande vela triangular móvel de painel solar. 

Tainan Art Museum | Tainan, Taiwan

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(divulgação/CASACOR)

Com um design intrigante, este projeto explora uma tipologia de construção onde o museu e as atividades do parque não são separados, mas sim integrados. Galerias de vários tamanhos, deslocadas e empilhadas umas sobre as outras, criam coberturas que se tornam espaços interconectados, enquanto as entradas do museu estão localizadas entre as galerias individuais. Como Tainan é uma cidade ensolarada durante todo o ano, Shigeru Ban desenvolveu um recurso chamado Fractal Shading para criar sombreamento em todo o prédio. Além disso, a construção existente foi reformada para abrigar novos espaços de galeria, escritórios administrativos e uma praça de alimentação. 

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Shigeru Ban revisita sua carreira em palestra na Japan House, em São Paulo
(divulgação/CASACOR)

Localizada em um terreno de frente para o mar, este projeto consiste em um museu, 10 acomodações e um restaurante. Paralelamente à costa, uma parede de vidro espelhado cria um efeito visual que duplica a paisagem por meio da reflexão. Em frente a esta parede, há um lago raso onde oito galerias móveis estão dispostas, cada uma coberta com vidro de cor diferente, projetadas para criar uma composição que lembra a paisagem das ilhas da região. Essas galerias flutuam em barcaças e podem ser movidas por apenas duas pessoas, permitindo que o layout possa ser alterado de acordo com a exposição. 

Blue Ocean Dome | Osaka, Japão

Shigeru Ban revisita sua carreira em palestra na Japan House, em São Paulo
(divulgação/CASACOR)

Entre os materiais que Shigeru Ban usou para construir o pavilhão Blue Ocean Dome, na Expo 2025 Osaka, estão tubos de papelão e bambu laminado, além de tubos de plástico reforçados com fibra de carbono, Criado para destacar a importância dos oceanos no mundo, o projeto apresenta um grande pavilhão central ladeado por duas cúpulas menores, unificados por uma pele de policarbonato. O trio de estruturas foi projetado para ser leve e garantir facilidade de desmontagem após o evento e minimizar o desperdício.

Projetos humanitários de Shigeru Ban

Japan House exibe casa feita de papelão projetada por Shigeru Ban
Projeto Paper Log, de Shigeru Ban, reproduzido na Japan House São Paulo pelos alunos da FAUUSP, ETEC Itaquera IIs e Escola da Cidade. (Thiago Minoru/CASACOR)

“Eu odeio jogar coisas fora. Tinha um monte de tubos de papelão no meu escritório, usados nas bobinas de fax, e achei que seria uma boa ideia reutilizá-los. Comecei a fazer testes com eles”, revelou o arquiteto Shigeru Ban no começo de sua palestra sobre como foi o início de sua pesquisa com o papelão na década de 1980. A partir desses testes, o material se tornou a marca do trabalho do arquiteto. Conhecido pelo uso inovador de materiais e também por sua abordagem humanitária em seus projetos, ele foi fundador da Voluntary Architects Network. O extenso conhecimento em materiais recicláveis que ele adquiriu durante seu processo de pesquisa resultou em construções de alta qualidade, abrigos de baixo custo para vítimas de desastres em todo o mundo, a exemplo da Paper Log, que ficou em exposição na Japan House São Paulo. Ruanda, Haiti, Turquia e Japão são alguns dos países que receberam seus projetos.

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