Shigeru Ban revisita sua carreira em palestra na Japan House, em São Paulo
Conhecido pelo trabalho inovador com papelão e madeira, o arquiteto japonês dividiu com a plateia curiosidades sobre seus projetos mais emblemáticos

“Eu sempre quis usar meu conhecimento em favor do público em geral”, afirmou o arquiteto japonês Shigeru Ban logo no início de uma palestra ministrada por ele na Japan House São Paulo, no dia 2 de maio de 2025. Vencedor do Prêmio Pritzker em 2014 (a premiação de arquitetura mais importante do mundo), ele ficou conhecido por criar um sistema construtivo inovador, com o uso de tubos de papelão e estruturas de madeira, usado, principalmente, em suas numerosas contribuições para as vítimas de desastres em todo o mundo.

“As pessoas sofrem muito durante a reconstrução de uma cidade que passou por um desastre. É responsabilidade do arquiteto fornecer melhores condições de vida para essas pessoas”, disse. Foi a partir dessa explicação, que Shigeru Ban iniciou sua apresentação para uma plateia física e digital atenta, que teve o privilégio de fazer junto com o arquiteto uma imersão em seus principais projetos. O arquiteto começou por projetos emblemáticos, criados para grandes empresas e instituições, mas depois apresentou suas iniciativas criadas para benefício da sociedade em geral e como foram aplicadas em cenários de conflitos, terremotos e durante a pandemia. Confira os principais destaques logo abaixo!
Nomadic Museum | Nova York, Estados Unidos

Projetado em 2005 e construído no Píer 57 de Manhattan, às margens do Rio Hudson, o Nomadic Museum é uma estrutura temporária para um museu itinerante, criado para abrigar inicialmente a exposição Cinzas e Neve, do fotógrafo canadense Gregory Colbert. Construído com 148 contêineres alugados na região e tubos de papel reciclados de 10,3 metros de altura, o museu foi projetado para ser facilmente construído e remontado em outras cidades ao redor do mundo. Depois de Nova York, o museu itinerante já viajou para Santa Monica e Tóquio.
Villa Vista | Weligama, Sri Lanka

Construída no topo de uma colina, de frente para o mar, no Sri Lanka, o piso, as paredes e o teto desta casa emolduram três vistas diferentes. A primeira é a vista do oceano contemplada na selva do vale, emoldurada perpendicularmente pelo corredor externo. A próxima é a paisagem horizontal do oceano vista do topo da colina, emoldurada pelo grande telhado sustentado por pilares de 22 m de vão e pelo piso. A última é a vista do penhasco, onde brilha um vermelho intenso durante o pôr do sol. Destaque no projeto, o telhado é revestido por leves placas de cimento e, em seguida, por um material feito de folhas de coco. O teto é feito de madeira de teca, com 80 mm de largura e 3 mm de espessura, trançada em um padrão de vime ampliado.
Ovaless House | Fukushima, Japão

Situada em um terreno urbano, esta casa em Fukushima, no Japão, não tem vistas exteriores particularmente especiais para capturar. Então, o volume do telhado de quatro águas é estendido até o perímetro do terreno e um pátio interno foi criado para melhorar a integração entre o interior e o exterior. Shigeru escolheu a forma de um pátio elíptico para alcançar uma continuidade fluida dos espaços internos.
Swatch Omega Factory | Bienna, Suíça

Este projeto envolve duas marcas — Omega e Swatch —, com conceitos de design distintos para os edifícios, de acordo com as características de cada uma delas. Liberdade e alegria para a Swatch e precisão e exatidão para a fábrica da Omega, além da integração das personalidades de ambas na Cité du Temps. O objetivo de Shigeru era dar aos três edifícios algo em comum, relacionado ao contexto local. A madeira foi a escolha ideal do ponto de vista da construção por ser o melhor material estrutural, que permite um processo de montagem rápido e silencioso, além de ser uma matéria-prima renovável. Além disso, Bienna, cidade onde está localizado o projeto, é conhecida por sua escola de engenharia madeireira, que lidera o uso dessa tecnologia na Suíça. O volume total de madeira usado neste projeto é de 4.600 m³, o que corresponde a 10 horas de crescimento de árvores inteiras na Suíça.
Oita Prefectural Art Museum | Oita, Japão

Para atender aos diversos eventos, funções e instalações que seriam realizados neste museu, Shigeru projetou portas horizontais dobráveis e paredes de exposição móveis para criar um espaço flexível e adaptável. Além disso, em vez de uma caixa fechada, o museu foi criado como um ambiente aberto, conectando o visitante e às atividades internas. A rua principal também pode ser convertida em um espaço de exposição, transformando todo o bairro em uma grande área de eventos. O exterior é uma grade fachada de madeira laminada sobreposta a um suporte de cedro maciço, evocando um padrão do artesanato tradicional de bambu de Oita.
Paper Temporary Studio | Metz, França

A vitória no concurso para o novo Centro Pompidou, em Metz, na França, resultou na permissão para construir um estúdio temporário no terraço do 6º andar do atual Centro Pompidou, em Paris. A localização privilegiada permitiu que os arquitetos controlassem adequadamente a construção do novo edifício, ao mesmo tempo em que os visitantes do museu puderam acompanhar o processo de projeto.
Haesley Nine Bridges Golf Clubhouse | Yeoju-gun, Coréia do Sul

A Clubhouse do Nine Bridges Golf Club é uma instalação de 16.000 metros quadrados com um subsolo e três andares acima. O átrio e a parte superior do prédio principal exibem colunas de madeira e uma parede de vidro, enquanto a base é feita de pedra. A área de madeira inclui a recepção, um lounge para membros e um salão de festas. As colunas de madeira em forma de árvore incomuns no átrio alcançam uma altura de três andares.
La seine musicale | Paris, França

Trata-se de um complexo de salas de música — com uma sala multiuso, uma sala de música clássica e uma escola —, localizado na Ilha Seguin, no subúrbio de Paris. De acordo com o plano diretor de Jean Nouvel para a ilha, um muro de concreto define o perímetro do local ao longo da beira da água. Dentro desse muro, encontra-se um grande salão, cercado por uma paisagem verde. À medida que o muro perimetral diminui em direção à borda principal, a estrutura hexagonal de madeira em forma de concha emerge. Ao redor, encontra-se uma grande vela triangular móvel de painel solar.
Tainan Art Museum | Tainan, Taiwan

Com um design intrigante, este projeto explora uma tipologia de construção onde o museu e as atividades do parque não são separados, mas sim integrados. Galerias de vários tamanhos, deslocadas e empilhadas umas sobre as outras, criam coberturas que se tornam espaços interconectados, enquanto as entradas do museu estão localizadas entre as galerias individuais. Como Tainan é uma cidade ensolarada durante todo o ano, Shigeru Ban desenvolveu um recurso chamado Fractal Shading para criar sombreamento em todo o prédio. Além disso, a construção existente foi reformada para abrigar novos espaços de galeria, escritórios administrativos e uma praça de alimentação.
Simose Art Museum + Simose Art Garden Villa | Hiroshima, Japão

Localizada em um terreno de frente para o mar, este projeto consiste em um museu, 10 acomodações e um restaurante. Paralelamente à costa, uma parede de vidro espelhado cria um efeito visual que duplica a paisagem por meio da reflexão. Em frente a esta parede, há um lago raso onde oito galerias móveis estão dispostas, cada uma coberta com vidro de cor diferente, projetadas para criar uma composição que lembra a paisagem das ilhas da região. Essas galerias flutuam em barcaças e podem ser movidas por apenas duas pessoas, permitindo que o layout possa ser alterado de acordo com a exposição.
Blue Ocean Dome | Osaka, Japão

Entre os materiais que Shigeru Ban usou para construir o pavilhão Blue Ocean Dome, na Expo 2025 Osaka, estão tubos de papelão e bambu laminado, além de tubos de plástico reforçados com fibra de carbono, Criado para destacar a importância dos oceanos no mundo, o projeto apresenta um grande pavilhão central ladeado por duas cúpulas menores, unificados por uma pele de policarbonato. O trio de estruturas foi projetado para ser leve e garantir facilidade de desmontagem após o evento e minimizar o desperdício.
Projetos humanitários de Shigeru Ban

“Eu odeio jogar coisas fora. Tinha um monte de tubos de papelão no meu escritório, usados nas bobinas de fax, e achei que seria uma boa ideia reutilizá-los. Comecei a fazer testes com eles”, revelou o arquiteto Shigeru Ban no começo de sua palestra sobre como foi o início de sua pesquisa com o papelão na década de 1980. A partir desses testes, o material se tornou a marca do trabalho do arquiteto. Conhecido pelo uso inovador de materiais e também por sua abordagem humanitária em seus projetos, ele foi fundador da Voluntary Architects Network. O extenso conhecimento em materiais recicláveis que ele adquiriu durante seu processo de pesquisa resultou em construções de alta qualidade, abrigos de baixo custo para vítimas de desastres em todo o mundo, a exemplo da Paper Log, que ficou em exposição na Japan House São Paulo. Ruanda, Haiti, Turquia e Japão são alguns dos países que receberam seus projetos.