No coração da floresta amazônica, às margens do rio Gregório (AC), nasceu um conjunto arquitetônico na Aldeia Sagrada Yawanawa que propõe uma nova forma de construir e habitar na floresta. Idealizado em parceria entre o cacique Nixiwaka Biraci Yawanawae o escritório Rosenbaum Arquitetura, liderado por Marcelo Rosenbaum, o projeto é fruto de 14 anos de colaboração e teve sua construção realizada em seis meses com o envolvimento direto da comunidade.

A Universidade dos Saberes Ancestrais, o Centro Cerimonial (Shuhu) e a Casa Modelo compõem esse conjunto que se molda ao território e valoriza os saberes tradicionais em diálogo com soluções arquitetônicas contemporâneas. Em 2025, o projeto será um dos representantes do Brasil na 19ª Exposição Internacional de Arquitetura – Bienal de Veneza.

“A gente não chega com uma ideia pronta. Nossa função é reconhecer o conhecimento ancestral e integrar esses conhecimentos em um espaço construído com respeito e sentido”, afirma Marcelo Rosenbaum. “É um projeto que não só respeita o território, mas é moldado por ele. Uma construção feita com a floresta, não contra ela.”

As estruturas foram erguidas com madeira nativa extraída e beneficiada localmente, por uma equipe multidisciplinar formada por indígenas, construtores ribeirinhos e técnicos de diversas áreas. A logística foi desafiadora: envolveu, por exemplo, o transporte de um trator desmontado rio acima e a permanência dos trabalhadores na aldeia por longos períodos.

A Universidade abriga cozinha industrial, dormitórios coletivos, salas de aula e refeitório para 250 pessoas. A Casa Modelo apresenta uma organização integrada, com conforto térmico e ventilação cruzada. O Centro Cerimonial, com 41 m de diâmetro, 33 m de vão livre e 1.150 m², é dedicado a rituais e práticas espirituais.

“O que foi construído em nossa aldeia é a arquitetura contemporânea mais atualizada: aquela que não agride a natureza”, diz o cacique Biraci Yawanawa. “Tudo que construímos vem da nossa ancestralidade. Somos um povo conectado às novas tecnologias, mas com as nossas raízes no chão. Cuidamos da natureza à nossa volta e não dá pra fazer isso sozinho. Precisamos de alianças e parcerias”.

Selecionado pela curadoria da Bienal de Veneza por representar uma arquitetura situada, colaborativa e sensível à emergência climática, o projeto integra diferentes formas de inteligência — ancestral, natural, coletiva — e propõe um futuro em que o encontro de saberes é fundamental para enfrentar os desafios ambientais e sociais do presente. “Ao lado do cacique Nixiwaka aprendemos que a floresta não é um lugar a ser conquistado, mas um lugar com o qual devemos dialogar”, conclui Rosenbaum.
