Continua após publicidade

Na Aldeia Yawanawa, Rosenbaum propõe nova forma de construir e habitar

O projeto de Marcelo Rosenbaum, que inclui três edifícios construídos em seis meses, será um dos representantes do Brasil na Bienal de Veneza 2025

Por Marina Pires
14 Maio 2025, 15h06

No coração da floresta amazônica, às margens do rio Gregório (AC), nasceu um conjunto arquitetônico na Aldeia Sagrada Yawanawa que propõe uma nova forma de construir e habitar na floresta. Idealizado em parceria entre o cacique Nixiwaka Biraci Yawanawae o escritório Rosenbaum Arquitetura, liderado por Marcelo Rosenbaum, o projeto é fruto de 14 anos de colaboração e teve sua construção realizada em seis meses com o envolvimento direto da comunidade.

projeto Marcelo Rosenbaum; Aldeia Sagrada Yawanawa; Floresta Amazônica; Arquitetura ancestral; Arquitetura contemporânea
Universidade dos Saberes Ancestrais, por Marcelo Rosenbaum na Aldeia Sagrada Yawanawa no estado do Acre; (Leonardo Finotti/CASACOR)

A Universidade dos Saberes Ancestrais, o Centro Cerimonial (Shuhu) e a Casa Modelo compõem esse conjunto que se molda ao território e valoriza os saberes tradicionais em diálogo com soluções arquitetônicas contemporâneas. Em 2025, o projeto será um dos representantes do Brasil na 19ª Exposição Internacional de Arquitetura – Bienal de Veneza.

projeto Marcelo Rosenbaum; Aldeia Sagrada Yawanawa; Floresta Amazônica; Arquitetura ancestral; Arquitetura contemporânea
Centro Cerimonial (Shuhu), por Marcelo Rosenbaum na Aldeia Sagrada Yawanawa no estado do Acre; (Leonardo Finotti/CASACOR)

“A gente não chega com uma ideia pronta. Nossa função é reconhecer o conhecimento ancestral e integrar esses conhecimentos em um espaço construído com respeito e sentido”, afirma Marcelo Rosenbaum. “É um projeto que não só respeita o território, mas é moldado por ele. Uma construção feita com a floresta, não contra ela.”

projeto Marcelo Rosenbaum; Aldeia Sagrada Yawanawa; Floresta Amazônica; Arquitetura ancestral; Arquitetura contemporânea
Centro Cerimonial (Shuhu), por Marcelo Rosenbaum na Aldeia Sagrada Yawanawa no estado do Acre; (Leonardo Finotti/CASACOR)

As estruturas foram erguidas com madeira nativa extraída e beneficiada localmente, por uma equipe multidisciplinar formada por indígenas, construtores ribeirinhos e técnicos de diversas áreas. A logística foi desafiadora: envolveu, por exemplo, o transporte de um trator desmontado rio acima e a permanência dos trabalhadores na aldeia por longos períodos.

projeto Marcelo Rosenbaum; Aldeia Sagrada Yawanawa; Floresta Amazônica; Arquitetura ancestral; Arquitetura contemporânea
Construção do Centro Cerimonial (Shuhu), por Marcelo Rosenbaum na Aldeia Sagrada Yawanawa no estado do Acre; (Leonardo Finotti/CASACOR)

A Universidade abriga cozinha industrial, dormitórios coletivos, salas de aula e refeitório para 250 pessoas. A Casa Modelo apresenta uma organização integrada, com conforto térmico e ventilação cruzada. O Centro Cerimonial, com 41 m de diâmetro, 33 m de vão livre e 1.150 m², é dedicado a rituais e práticas espirituais.

projeto Marcelo Rosenbaum; Aldeia Sagrada Yawanawa; Floresta Amazônica; Arquitetura ancestral; Arquitetura contemporânea
Casa Modelo, por Marcelo Rosenbaum na Aldeia Sagrada Yawanawa no estado do Acre; (Leonardo Finotti/CASACOR)

“O que foi construído em nossa aldeia é a arquitetura contemporânea mais atualizada: aquela que não agride a natureza”, diz o cacique Biraci Yawanawa. “Tudo que construímos vem da nossa ancestralidade. Somos um povo conectado às novas tecnologias, mas com as nossas raízes no chão. Cuidamos da natureza à nossa volta e não dá pra fazer isso sozinho. Precisamos de alianças e parcerias”.

Continua após a publicidade
projeto Marcelo Rosenbaum; Aldeia Sagrada Yawanawa; Floresta Amazônica; Arquitetura ancestral; Arquitetura contemporânea
Casa Modelo, por Marcelo Rosenbaum na Aldeia Sagrada Yawanawa no estado do Acre; (Leonardo Finotti/CASACOR)

Selecionado pela curadoria da Bienal de Veneza por representar uma arquitetura situada, colaborativa e sensível à emergência climática, o projeto integra diferentes formas de inteligência — ancestral, natural, coletiva — e propõe um futuro em que o encontro de saberes é fundamental para enfrentar os desafios ambientais e sociais do presente. “Ao lado do cacique Nixiwaka aprendemos que a floresta não é um lugar a ser conquistado, mas um lugar com o qual devemos dialogar”, conclui Rosenbaum.

Marcelo Rosenbaum e cacique Nixiwaka Biraci Yawanawa
Marcelo Rosenbaum e cacique Nixiwaka Biraci Yawanawa. (Leonardo Finotti/CASACOR)
Compartilhe essa matéria via:
Publicidade